07 de julho de 1987. A CBF divulga um comunicado no qual afirma que não teria condições financeiras de organizar o Campeonato Brasileiro daquele ano. A entidade afirma ainda que tentaria obter um patrocínio ou chegar a um acordo com os clubes para que estes bancassem suas despesas. Era o fundo do poço para o futebol nacional.
Blefe ou não, os clubes decidem contra-atacar. Liderados pelos presidentes do Flamengo (Márcio Braga) e do São Paulo (Carlos Miguel Aidar), os grandes do futebol brasileiro anunciam a criação do Clube dos 13 e a intenção de organizar o campeonato nacional sem a intromissão da CBF.
O Brasileiro de 1987, denominado Copa União, seria composto pelos integrantes do recém-criado Clube dos 13 (Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético-MG, Cruzeiro e Bahia). A pedido da CBF, Coritiba, Goiás e Santa Cruz também foram incluídos. Três clubes populares em seus estados e que iriam conferir um caráter mais nacional ao torneio.
A justificativa do Clube dos 13 para reunir apenas os clubes com maior torcida do país era que apenas dessa forma o torneio seria viável financeiramente. Uma competição historicamente deficitária. Azar de Guarani e América-RJ, que ficaram de fora da Copa União mesmo sendo vice-campeão e semifinalista do Brasileirão de 1986. Eles teriam que disputar o Módulo Amarelo, espécie de segunda divisão, com outros 14 clubes.
Embora não tivesse dinheiro para o campeonato, o Clube dos 13 elaborou um plano de marketing bem-sucedido e três patrocinadores viabilizaram a Copa União: Rede Globo, Varig e Coca-Cola. A emissora de TV transmitiria com exclusividade o campeonato para todo o país , a Varig seria responsável pela passagens aéreas e a Coca-Cola patrocinaria todos os clubes do campeonato. Um sucesso comercial nunca antes visto no caótico futebol brasileiro.

IDEIA MALUCA EM UMA LIGA FALIDA
Neville Isdell, ex-CEO da Coca Cola e presidente da companhia na Europa Central em 1987, recorda no livro “Nos Bastidores da Coca Cola” o acordo da multinacional no Brasil.
“Um ano mais tarde, ele (Don Keough, então CEO Coca-Cola) me pediu que liderasse uma força-tarefa para avaliar as operações da Coca-Cola no Brasil, na época sob o comando de Jorge Giganti. O pessoal de Atlanta (sede da companhia) reclamava que Giganti não andava se comunicando bem com a matriz e que ele estava obcecado com a ideia maluca de patrocinar uma liga de futebol brasileiro falida. O mais importante, contudo, era o fato básico de que o crescimento se encontrava estagnado. Ao chegar ao Rio, eu me reuni com Jorge para me informar sobre o lado dele na história. ‘Não há nenhum problema’, ele disse, e acrescentou: ‘Só telefono para Atlanta uma vez por mês.’ Em menos de uma hora, encontrei a raiz do problema: falta de comunicação. Passamos a semana no Rio e constatamos que a ideia de patrocinar a liga de futebol na verdade fazia bastante sentido. Por apenas 1 milhão de dólares, todos os times de futebol do Brasil vestiriam o logo da Coca Cola. Afinal, estávamos no país do futebol e seria loucura deixar passar a oportunidade.”
COCA-COLA NO FUTEBOL BRASILEIRO
Para um produto popular e de fácil acesso como a Coca-Cola, faz todo o sentido associar seu nome ao imenso alcance que o futebol proporciona. Desde 1974, a empresa é uma das patrocinadoras da FIFA e da Copa do Mundo. No Brasil, placas publicitárias da marca já foram expostas nos estádios em incontáveis partidas ao longo dos anos. Um dos seus principais garotos-propagandas dos anos 1980 foi Zico, o maior ídolo de uma geração de brasileiros. Coca-Cola, futebol e um sorriso.
A Coca-Cola também havia participado do pool de empresas que repatriou Zico em 1985 de volta para o Flamengo após dois anos no futebol italiano pela Udinese, mas nenhum movimento havia sido tão ambicioso como o de patrocinar praticamente todo o futebol brasileiro. Porém, naquele Brasil de 1987 nada era tão simples.
Flamengo e Corinthians, os clubes com maior torcida do Brasil, recusaram o acordo e ficaram com seus patrocínios da Lubrax e Kalunga, respectivamente. Se era bom para o São Paulo, não seria bom para o Corinthians, afirmava o presidente corintiano Vicente Matheus. Palmeiras, São Paulo, Inter e Santos só ostentariam o logo da Coca-Cola após o fim dos patrocínios vigentes. O Grêmio aceitava estampar o patrocínio, mas não aceitava a cor vermelha da marca na camisa. O jeito foi colocar o logo em preto.
“Vermelho no uniforme? Só se algum jogador sangrar” (Revista Placar 26/10/1987, ed. 908)
No final, 10 dos 16 clubes da Copa União exibiram o onipresente patrocínio. Curiosamente, na final da Copa União a Coca-Cola ficou de fora dos uniformes: nem Flamengo e nem Inter eram patrocinados pela marca.
A Coca-Cola continuou nas camisas dos clubes brasileiros até 1994. Aos poucos a marca de refrigerantes foi sumindo dos uniformes. Teve até time que “virou a casaca” como foi o caso do Botafogo que substituiu a Coca-Cola pela 7Up da rival Pepsi em 1995.
As pessoas que possuem o hábito de colecionar camisas de futebol sabem o quanto são caros os modelos originais e em bom estado de uma camisa com o patrocínio da Coca Cola do final dos anos 1980 e início dos anos 1990. No Mercado Livre dificilmente são encontradas por menos de 500 reais. Alguns mais gananciosos chegam a vender por até três mil reais. Vale? Difícil afirmar…
Foi um período bagunçado, com dirigentes corruptos e com muitas decisões tomadas nos tribunais (não vamos nem entrar na polêmica de quem foi o legítimo campeão de 1987), mas também uma época em que grandes jogadores desfilavam pelos nossos gramados. Muitos com uma marca de refrigerante estampada no peito. Abra a felicidade e grite gol!

BIBLIOGRAFIA
Isdell, Edward Neville. Nos bastidores da Coca-Cola: o ex-CEO da companhia conta como foi construída a marca mais popular do mundo. São Paulo, 2011, p.88
COCA-COLA NAS CAMISAS DOS PRINCIPAIS TIMES DO BRASIL:
São Paulo: 1988 até 1991 (substituída pela IBF Formulários)
Palmeiras: 1989 até 1992 (substituída pela Parmalat)
Santos: 1988 até 1993 (substituída pela Lousano)
Corinthians: sem patrocínio
Flamengo: sem patrocínio
Fluminense: 1987 até 1994 (substituída pela Hyundai)
Botafogo: 1987 até 1994 (substituída pela 7Up)
Vasco: 1987 até 1994 (substituída pela Lousano)
Grêmio: 1987 até 1994 (substituída pela Renner)
Internacional: 1988 até 1994 (substituída pela Aplub)
Cruzeiro: 1987 até 1994 (substituída pela Energil C)
Atlético- Mineiro: 1987 até 1994 (substituída pela TAM)
Bahia: 1987 até 1994 (substituída pela Renner)
Santa Cruz: 1987 até 1995 (substituída pela Parmalat)