Antoine Griezmann: “Uruguai é meu segundo país”

Moscou, 15 de julho de 2018. O atacante Antoine Griezmann participa da coletiva após vencer a Copa do Mundo com a seleção da França. Em um momento da entrevista, um jornalista oferece uma bandeira do Uruguai. O francês abre um largo sorriso, levanta-se, pega o presente e o põe sobre os ombros. O que parecia um gesto simpático do craque, na verdade, tinha um significado muito maior. Para Griezmann, o Uruguai é como seu segundo país.

É um sentimento de respeito e admiração que começou ainda em 2009, quando ele era um menino de 17 anos e jogava nas categorias de base do Real Sociedad, da Espanha. Sob o comando do técnico Martín Lesarte, nascido em Montevidéu, ele subiu para os profissionais. A influência sul-americana, porém, viria a fazer a cabeça de Griezmann graças a Carlos Bueno, um atacante uruguaio que já na época tinha 28 anos. Surgiu ali uma grande amizade, que mudou por completo a vida do craque francês. Com o convívio, ele adquiriu o hábito de beber todos os dias o mate – a tradicional bebida do país vizinho – passou a comer doce de leite e se tornou torcedor do Peñarol.

“Carlos Bueno era atacante, ia se tornar o melhor do time. Ele passou a cuidar de mim e me dar conselhos. Eu observava os movimentos dele, as decisões. Eu tentei copiar o que ele fazia. Ele notou que eu queria aprender, melhorar. Foi quando tudo mudou”, contou o jogador no documentário Antoine Griezmann: Nasce uma lenda, exibido pelo Netflix.  

  

Ao lado do “mestre” uruguaio nos tempos de Real Sociedad

Quando Griezmann trocou a Real Sociedad pelo Atlético de Madrid, em 2014, esse sentimento se intensificou ainda mais. No time da capital, passou a conviver com vários uruguaios, como o meia “Cebola” Rodriguez e os zagueiros Giménez e Diego Godín. Com este último, a relação virou quase que de irmãos. Amigos inseparáveis, Godín é padrinho da filha de Griezmann. O carinho pelo país é tanto que ele sequer comemorou após marcar o segundo gol na vitória de 2×0 contra o Uruguai nas quartas de final da Copa. Em uma entrevista no Mundial, ele comparou o futebol da celeste ao do Atlético. “Tenho algo de uruguaio, como seu estilo no qual dão tudo pela equipe, não se dão nunca por vencidos e ajudam seus companheiros. Adoro os uruguaios e a cultura uruguaia”.

Com a filha e ao lado do “irmão” uruguaio Diego Godín
Crédito: Reprodução Instagram Griezmann

Aliás, jogadores franceses com raízes ou identificação com outro país não é exceção. Dos 23 atletas campeões da Copa do Mundo, nada menos do que 19 nasceram ou vêm de famílias que migraram para a França. Para se ter uma idéia, dos 11 titulares que derrotaram a Croácia por 4×2 na final, só o goleiro, Lloris, o lateral direito Pavard e o atacante Giroud têm raízes totalmente francesas. É a geração Black-Blanc-Beur (negros, brancos e árabes), batizada na conquista de 98, quando a seleção foi capitaneada pelo craque Zinedine Zidane, com raízes na Argélia, uma antiga possessão da França.

Vindo de família portuguesa, francês de nascimento e meio uruguaio de coração, Griezmann mostra que futebol, migração e globalização caminham juntas. No dia em que ele ganhou a bandeira do jornalista, ele usou uma expressão tipicamente celeste para definir o que sente: Uruguai Nomá, ou simplesmente Uruguai e Nada mais