A luta extracampo de Macarena Sánchez por um futebol feminino digno

“Maca, hay muchas personas enojadas por tus denuncias, hay bastante dinero por tu cabeza, vas a morir pronto” (Maca, há muitas pessoas irritadas com suas denúncias, há muito dinheiro pela sua cabeça, você irá morrer em breve)

A jogadora argentina Macarena Sánchez divulgou em seu perfil no Twitter a ameaça de morte acima que recebeu na internet. Maca, como é conhecida, lidera um movimento pela profissionalização do futebol feminino no país após ter sido dispensada no início do ano pelo UAI Urquiza, um dos clubes de futebol feminino mais poderosos da Argentina. A atleta estava há sete anos no clube e foi comunicada de sua dispensa em suas férias. Para piorar, só poderia assinar um contrato com outro time no 2.º semestre, após o fim do atual torneio nacional.

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A ameaça: tudo tem um limite

Disposta a lutar por Justiça, Sánchez exigiu o reconhecimento da relação trabalhista que teve com o clube por parte da Associação Argentina de Futebol (AFA), mas essa é a grande questão: o futebol feminino argentino não é profissional e as jogadoras não firmam contratos com os clubes, mas sim fichas de inscrição. Uma situação que deixa os clubes em uma situação muito favorável a ponto de oferecer salários irrisórios para suas atletas. Para se ter uma ideia, Macarena Sanchez recebia 400 pesos por mês, o equivalente a 40 reais. Alguns clubes fazem ainda pior: obrigam as jogadoras a pagar uma mensalidade para jogar.

O abismo salarial entre homem e mulheres também é destacado por Sánchez. Enquanto o time masculino do UAI Urquiza sofria na terceira divisão, a equipe feminina era uma das maiores do país. O que não significava muito:

“Eles têm grandes salários e todas as condições para viver só do futebol, nós somos campeãs, vamos a torneios internacionais, mas não nos querem pagar. Somos vistas como inferiores só porque somos mulheres”- disse, em entrevista, ao jornal inglês The Guardian

Sua liderança e cruzada pela profissionalização do esporte entre as mulheres causou uma revolução no país. Diversas atletas e instituições se posicionaram a seu favor, mas Sánchez também mexeu em um vespeiro. Assim como no Brasil, não é interessante profissionalizar o esporte. Quanto mais amador, mais corrupção e menos direitos. Uma lógica perversa tão bem aplicada em nosso país.

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Não se trata somente uma questão salarial, mas também a necessidade urgente de oferecer condições mínimas para as jogadoras: estrutura, alimentação adequada, alojamentos, profissionais capacitados, ambulância, policiamento, etc. Alguns clubes nem o tratamento médico de lesões custeiam. Com raríssimas exceções, uma triste realidade sul-americana.

A grande injustiça que sofreu Macarena Sánchez foi também a oportunidade de marcar seu nome na história. Há alguns momentos na vida em que é preciso não se acovardar e lutar por suas convicções. O preço que ela paga e está pagando é alto… boicotes, ameaças, insultos e lutas contra poderosos. Mas a grandeza exige sacrifícios. Que a projetam, pois o maior gol de sua vida já foi feito fora de campo.

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Campeã em todos os sentidos