A vida de Héctor Castro nunca foi fácil.
Nascido no Uruguai em 1904, era mais um entre tantos meninos apaixonados por futebol nas ruas de Montevidéu. Porém a sua devoção à bola precisou esperar e a origem humilde da família falou mais alto. Com apenas 10 anos, seu pai o tirou da escola para vender jornais. Primeiro a subsistência, depois o lazer.
A TRAGÉDIA
Aos 13 anos, trabalhando como carpinteiro, Héctor Castro perdeu parte de sua mão direita após um acidente com uma serra elétrica. Parecia o fim de muitos sonhos e planos, incluindo o de ser jogador de futebol: “Não existem jogadores sem o braço, nem no Nacional, nem no Peñarol, nem no Uruguai, nem no mundo”, disse após o acidente.
A SUPERAÇÃO
Passada a tragédia, Castro, apelidado pelos amigos como El Manco, percebeu que não era goleiro e não precisava das mãos para jogar. Seu talento estava nos pés e sua obstinação na cabeça. O episódio com a serra elétrica seria apenas mais uma adversidade para ser superada.
Três anos após o acidente, o jovem Castro estreava na primeira divisão uruguaia jogando pelo Clube Atlético Lito, um clube de Montevidéu já extinto, mas com relativa importância no início do século passado. Suas boas atuações chamaram a atenção do Nacional e, aos 20 anos, assina com o tricolor. Se lhe faltava parte da mão, sobrava técnica, raça e talento.
A continuidade do talento com a camisa do Nacional rendem uma convocação para a seleção uruguaia que iria disputar a Copa América de 1926. Acaba campeão. Em 1928, também foi chamado para os Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã. Campeão novamente. O bicampeonato da, agora, Celeste Olímpica.

CONSAGRAÇÃO NA PRIMEIRA COPA DO MUNDO
Ainda no ano de 1928, o presidente da FIFA, Jules Rimet, manifesta sua intenção de sediar um campeonato mundial de futebol separado do torneio olímpico. Após a desistência dos candidatos europeus, o Uruguai foi o escolhido para receber a primeira Copa do Mundo. Uma homenagem ao pais que, além do mágico futebol praticado, completaria o centenário de sua independência em 1929 e o centenário de sua primeira constituição de 1830.
Um pais em êxtase celebra o sucesso de sua seleção. A sublime geração de Pedro Cea, Héctor Scarone, José Leandro Andrade e companhia ensinava ao mundo como jogar futebol e El Manco Castro teria atuação destacada em mais uma conquista da Celeste. Coube ao jogador marcar o primeiro (1×0 sobre o Peru) e o último gol (4×2 sobre a Argentina) da campanha do primeiro campeão da Copa do Mundo.

Se o destino lhe tirou parte da mão, ao menos ofereceu um lugar na galeria dos imortais do futebol. Não pela deficiência, mas sim pelo talento, obstinação e conquistas. Um jogador sem a mão escreveu uma das mais belas histórias de superação. Bravo, Manco!
