O canal de TV argentino Tyc Sports resolveu provocar o presidente russo Vladimir Putin por conta das políticas de repressão à comunidade LGBT. No comercial, intitulado “Putin”, a emissora usa a forma pela qual os argentinos vivem e expressam sua paixão pelo futebol para ironizar a homofobia no país-sede da Copa do Mundo de 2018.
“Senhor presidente da Rússia, soubemos que no seu país não são permitidas manifestações de amor entre homens. Então, temos um problema”. Assim começa o vídeo, que em pouco mais de um minuto e meio exalta imagens de torcedores chorando pela seleção, homens venerando ídolos e jogadores seminus comemorando vitórias da seleção alviceleste. Nem mesmo a famosa cena da comemoração de Maradona após a vitória contra a Inglaterra no Mundial de 86 ficou de fora.
“Viemos de um lugar que é comum um homem chorar por outro. Talvez o senhor se espante ao ver um homem agachado diante de outro, mas para nós é normal. Se para você o amor entre homens é uma doença, nós estamos muito doentes. E é contagioso”, conclui o canal, de forma provocativa.
O vídeo em pouco tempo ganhou as redes sociais e se tornou viral. Com a mesma velocidade, tornou-se alvo de elogios e críticas. Para a Fundação Hóspede, uma organização não governamental de luta contra a Aids, o anúncio peca ao fazer um paralelo entre o contato físico gerado pela paixão pelo futebol e as relações homoafetivas.
Após a repercussão, a Tyc Sports tirou o vídeo do ar, que ainda pode ser encontrado em diversas reportagens e canais do Youtube.
Homofobia na Rússia
A homossexualidade na Rússia era considerada crime até 1993 e uma doença mental até 1999. São frequentes os relatos de perseguição, humilhação e violência contra gays, lésbicas, bissexuais e transexuais.
No país europeu, a repressão à comunidade LGBT passa do conservadorismo social e ganha aspectos legais. Com anuência de Putin – no poder desde 1999 e reeleito em março deste ano -vigora na Rússia, desde 2013, a chamada “lei de propaganda gay”. A norma proíbe a distribuição para menores de conteúdo que defendam direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais e foi rechaçada por diversas entidades internacionais, como o Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Segundo o órgão, o texto viola a liberdade de expressão, reforça o preconceito e encoraja a homofobia.
Com a visão de Putin de que homossexuais são pervertidos ou com transtornos mentais, outras ideias ultraconservadoras ganharam legitimidade ou foram expostas abertamente por parlamentares. Em 2015, uma lei passou a proibir transexuais de tirarem carteira de motorista e outra proposta, não aprovada, cogitou punir com multa os russos que se declarassem homossexuais abertamente.