4 Razões para ser fã de Mohamed Salah além do futebol

Maior artilheiro da Europa com 43 gols em 46 jogos, cotado para a Bola de Ouro da Fifa, passe avaliado em mais de R$ 800 milhões e herói da classificação do Egito para a Copa do Mundo após 28 anos. Sobram atributos para o torcedor ser fã do atacante do Liverpool Mohamed Salah, um dos melhores jogadores do mundo na atualidade. Se dentro de campo o camisa 11 do time da cidade dos Beatles encanta, fora dos gramados ele também mostra porque é chamado pelos egípcios de Faraó.

Salah nasceu em junho de 1992, em Nagrig, cidade a 130 quilômetros da capital. Filho de um vendedor, enfrentou a falta de tradição do Egito no futebol e obstáculos quase impossíveis para realizar o sonho de se tornar jogador. Ainda aos 14 anos, assinou o 1º contrato profissional com o Al Mokawloon, clube de Cairo que disputa a primeira divisão do país. Assim, para poder treinar e estudar, passou a fazer o percurso entre as duas cidades, um deslocamento diário de mais de 5 horas. Na época, para poder conciliar futebol e estudos, obteve uma autorização para frequentar apenas 2 horas de aula.

Ironicamente, a guinada na história do obstinado jovem acontece após a maior tragédia do futebol egípcio. No dia 1º de fevereiro de 2012, em um jogo entre Al Ahly e Al Masry na cidade de Port Said, a invasão das torcidas no gramado provocou um tumulto generalizado e cenas de violência. Ao todo 74 pessoas morreram, a maioria pisoteada pela multidão ou vítimas de queda das arquibancadas.

O trágico episódio fez com que a federação suspendesse o campeonato do país. Salah, à época, foi se juntar à seleção sub-23 para disputar um amistoso contra o Basel, na Suíça. Destaque da partida, impressionou a todos e logo assinou um contrato de 4 anos com a equipe da Basileia. De lá, seguiu para o Chelsea – onde não teve muitas oportunidades – passou pela Fiorentina, foi destaque na Roma, até ser comprado pelo Liverpool por € 50 milhões.

A trajetória de Salah impressiona, mas não é diferente de inúmeros casos do futebol, no Brasil e no mundo. Mais do que uma biografia, a idolatria pelo egípcio se traduz em simbolismos de humildade, solidariedade e esperança.

Apoio às regiões carentes

Melhor jogador da África em 2017 e artilheiro da atual temporada da Premier League, Salah recebe atualmente cerca de 360 mil libras, o equivalente a R$ 1,57 milhão. A fama, o dinheiro e o reconhecimento, porém, não fizeram com que o craque esquecesse suas origens e a dura realidade vivida por grande parte de seu povo.

Em outubro de 2017, Salah marcou aos 50 minutos do 2º tempo o gol que garantiu a vitória do Egito por 2×1 diante do Congo. Um feito histórico que colocou o país das pirâmides na Copa da Rússia. Após a classificação, vários empresários passaram a oferecer recompensas extravagantes ao craque. Mamdouh Abbas, um magnata local, quis lhe dar uma mansão. O craque agradeceu, mas recusou e pediu que o presente fosse revertido em dinheiro e doado para um centro comunitário de Nagrig.

A filantropia do craque vai além de pedidos para doações e, na maioria das vezes, vem do próprio bolso. Salah comprou ambulâncias e está construindo uma escola, um hospital e campos de futebol na área onde nasceu e cresceu.  Ele também doou R$ 4,7 milhões em equipamentos médicos para um hospital universitário localizado na região norte do Egito. Não bastasse tudo isso, Salah ainda fundou uma instituição que leva o seu nome e é responsável por garantir alimentação a crianças pobres.

“Quero que todas as pessoas no Egito consigam seguir o meu caminho. Nós temos muitas crianças. Muitas se veem sem futuro. Eu quero mudar isso. Quero que todo mundo tenha um sonho, que sinta que pode fazer alguma coisa”, disse Salah, em entrevista ao canal ESPN.

Perdão a um criminoso

Durante a partida entre Egito e Congo, a casa da família de Salah em Nagrig fora roubada. Dois dias depois o ladrão foi pego e iria para a cadeia. No entanto, o jogador convenceu seus familiares a não prestar queixa do caso.

Além do perdão, Salah ainda foi fundamental para que o homem recomeçasse sua vida, doando dinheiro e o ajudando a encontrar um emprego. “Salah quer que todos tenham uma chance de melhorar, e é por isso que ele está ajudando nossa nação a ser mais unida”, enalteceu Mahmoud Fayez, auxiliar do técnico argentino Héctor Cuper na seleção do Egito.

Empréstimo para o Banco Central do Egito

O Egito vive uma grave crise econômica desde 2011, com o início da Primavera Árabe, quando milhares de pessoas saíram às ruas em protesto, o que culminou na queda do ditador Hosni Mubarak. De lá para cá, três novos presidentes alçaram ao poder, sem solucionar a forte instabilidade política e econômica.

Em um determinado momento, os problemas econômicos ocasionaram uma forte crise monetária, com a libra egípcia perdendo muito valor: chegou a cotação de 9 para cada dólar. Com as reservas cambiais escassas, o país pediu ajuda à população para sustentar a moeda. Foi então que Salah doou 210 mil libras para amenizar a situação do país.

Salah, o “quase presidente”

A Salahmania, assim chamado o orgulho dos egípcios ao seu filho mais ilustre, extrapola as quatro linhas e alcança um campo onde o craque jamais atuou diretamente: a política.

Há um mês, os eleitores do país foram às urnas para escolher seu novo governante. Vitória de Abdel Fattah Al-Sisi, atual presidente e reeleito com 92% dos votos. Segundo a revista The Economist, porém, a taxa de participação foi de apenas 42%. No total, mais de 1 milhão de pessoas votaram nulo, e entre eles, 700 mil escreveram o nome do craque do Liverpool nas cédulas de papel.

Cédula com nome de Salah para presidente

Com 5% dos votos, Salah ficou à frente de Moussa Mustafa Moussa, candidato derrotado com 3% da escolha dos eleitores.  Um feito e tanto, que mostra o tamanho da idolatria pelo ídolo, um herói nacional dentro e fora do campo.