Defensor, campeão uruguaio de 1976: contra Peñarol, Nacional e a Ditadura

O Defensor Sporting Club é um clube uruguaio formado em 1989 a partir da fusão entre o clube de futebol Clube Atlético Defensor e o de basquete Sporting Club Uruguai. É considerado a terceira força do Uruguai, o que não quer dizer muito em um país dominado por Peñarol e Nacional. São apenas quatro títulos nacionais (1976, 1987, 1991 e 2007-08) e um belo uniforme violeta.

Antes da fusão, o Club Atlético Defensor realizou um dos maiores atos de heroísmo e rebeldia no futebol: o título uruguaio de 1976 em plena Ditadura Militar.  Para ter uma ideia da façanha, foi o primeiro título na era do profissionalismo de um clube que não fosse Nacional ou Peñarol.

Sua conquista torna-se ainda mais relevante por ter acontecido em um período ditatorial. Governos totalitários adoram o futebol e não é interessante para a sua máquina de propaganda que uma instituição com poucos adeptos seja campeã. É muito melhor estar amparado pelas massas.

Assim como seus pares argentinos e brasileiros, o Uruguai também viveu seus anos de Ditadura Militar nos anos 1970 e início dos anos 1980. Um período obscuro que se iniciou em 1973, quando o presidente Juan Maria Bordaberry, com o apoio do Exército, anuncia em cadeia nacional o fechamento do Senado e da Câmara dos Deputados e instaura uma anômala ditadura “cívico-militar”, que durou até o distante ano de 1985.

O Estado de Exceção uruguaio foi denominado Anos de Chumbo e registrou todo o seu rol de atrocidades dos seus vizinhos da Operação Condor: torturas, violações aos diretos humanos, desaparecimentos e mortes. Para uma sociedade pequena como a uruguaia, tudo virara uma paranoia coletiva em que predominava o medo. Não havia espaço para liberdade de expressão. Era tão somente mentir, calar-se ou delatar.

Foi nesse cenário desolador que o Defensor avança no Campeonato Uruguaio do 1976. Liderados pelo técnico José Ricardo de Léon, um homem de esquerda, a equipe exibia um jogo com conceitos táticos inovadores para o futebol uruguaio, historicamente baseado em linhas defensivas sólidas e saída nos contra-ataques. De Léon prega um futebol ofensivo com a marcação no campo de ataque do adversário. A ousadia acaba recompensada.

Com as vitórias, o acanhado estádio Luiz Franzini, casa do Defensor, começa a receber cada vez mais torcedores. Uma ilusão coletiva que começa a misturar esporte com política. Era o triunfo de um pequeno contra os grandes. A jornada improvável de um exército Brancaleone contra todas as probabilidades.

No dia 25 de julho, o Defensor sagrou-se campeão pela primeira vez na sua história após vencer o Rentistas por 2×1. Durante a comemoração do título, o clube oferece um pequeno ato de rebeldia que dá um alento aos esperançosos: realiza a volta olímpica- uma invenção uruguaia nos Jogos Olímpicos de 1924- ao contrário. Uma atitude sutil, mas um sinal de que os tempos poderiam mudar. Era necessário resistir nas noite tristes para que o sol voltasse a nascer algum dia.

Após o título de 1976, jogadores do Defensor dão uma volta olímpica ao contrário
A volta olímpica ao contrário do campeão Defensor

Não era somente um triunfo esportivo, era a esperança por dias melhores. E naquele breve momento a liberdade foi violeta.