Fernando Redondo, Sorin, Riquelme, Esteban Cambiasso e Maradona. Impossível um amante do futebol não reconhecer cada um desses nomes. Jogadores que fizeram história na seleção da Argentina, eles têm mais algo em comum além do talento. Todos foram formados nas categorias de base do Argentinos Juniors, clube um dia chamado de “a sementeira do mundo”.
O Argentinos Juniors é mais um dos times de bairro da Argentina a conquistar projeção internacional. Situado em La Paternal, um bairro central de Buenos Aires, o clube foi fundado por um grupo de estudantes em 1904, ainda sob o nome de Mártires de Chicago. Em 113 anos de existência, o “Bicho” – como é popularmente conhecido -não pôde gritar “campeão” muitas vezes. Seus tempos de bonança estão ligados a maior joia lapidada: ninguém menos do que Diego Armando Maradona. O craque defendeu o Argentinos Juniors dos 16 aos 21 anos e, apesar de não ter ganhado títulos, encheu os cofres do clube. Em 1982 foi vendido ao Barcelona por US$ 10 milhões, após uma breve passagem pelo Boca Juniors. Com o dinheiro e a abundância de talentos nas categorias de base, o time de La Paternal venceu o Metropolitano de 1984, o Nacional de 1985 e a Libertadores do mesmo ano.
Da perda do título Intercontinental de 85 para a Juventus aos dias atuais, restaram apenas a conquista do Clausura de 2010 e do Campeonato Argentino da 2ª divisão na temporada 2016/2017. Mesmo sem subir ao pódio, o Juniors tem seu nome reverenciado no mundo do futebol pelos inúmeros brilhantes pés-de-obra revelados. E a sementeira do mundo não brotou por um acaso do destino.
A incubadora de talentos
Pelos arredores de La Paternal havia dois mestres na arte de descobrir craques. Ramón Maddoni e Luís Alberto Andretto, mais conhecido como “Yiyo”, eram os responsáveis por observar habilidades precoces e transformar crianças em futuros astros do futebol. O trabalho não vinha propriamente do Argentinos Juniors, mas de um clube vizinho.
Localizado no bairro residencial de Villa del Parque, o Club Social Parque atuou como uma espécie de fábrica de craques. Graças a uma parceria bem sucedida, garotos a partir dos 6 anos de idade recebiam fundamentos, aprendiam tática e começavam a tomar gosto pela vitória. De lá, mais tarde, saíam direto para as categorias de base do Juniors. Cabia aos dois técnicos, como conta Maddoni em seu blog, “a tarefa nada fácil de detectar habilidades e convertê-las logo com paciência e dedicação em talentos futebolísticos infantis”.
Segundo escreve o jornalista Fernando Martinho, da revista Corner, as safras descobertas por Yiyo e Maddoni eram tão boas que os times montados pelo Club Parque chegavam a ser impedidos de participar de torneios infantis.

Em 1º de agosto de 1996, Yiyo e Maddoni, juntamente com todo o Club Parque, passaram a trabalhar para o time de maior torcida na Argentina, o Boca Juniors. Era o início de uma união concretizada pelo então mandatário boquense Mauricio Macri -hoje presidente da Argentina.
Trabalhando diretamente com o Boca, Yiyo e Maddoni ajudaram a revelar nomes de peso como Gaitán, Fernando Gago e Carlos Tevez. De 96 para cá, os xeneises se tornaram uma verdadeira máquina de ganhar títulos: foram 4 Libertadores da América (2000,2001, 2003 e 2007) e dois Mundiais (2000 e 2003). Sem o Club Parque, o Argentinos desceu à série B em 2016 e, de volta à elite um ano depois, tenta cultivar suas próprias sementes.