Domingo, 28 de janeiro, Buenos Aires, bairro de Parque Patrícios. Uma ameaça à bomba leva à evacuação de torcedores do estádio Tomás Adolfo Ducó, horas antes da partida entre o time da casa, Huracán, e o River Plate. Fotografado sentado ao lado de torcedores à espera pela abertura dos portões, um homem com aparência bastante debilitada causou mais reboliço do que a presença da brigada antibomba. Tratava-se de René Houseman, ídolo do Globo – como é conhecido o Huracán – e um dos heróis da primeira Copa do Mundo vencida pela Argentina, em 1978.
Selecionado para as Copas de 1974 e 1978, René Houseman, apelidado de “Loco”, era o camisa 9 da seleção de Passarela e Mario Kempes na Copa do Mundo vencida pelos hermanos. Foi dele, inclusive, um dos gols da polêmica goleada de 6×0 da Argentina contra o Peru que tirou o Brasil da final daquele Mundial.
Houseman viveu o auge na carreira profissional com a camisa do Huracán, clube que defendeu entre 1973 e 1980. O apelido de “Loco” herdou da rebeldia nos gramados e fora dele: conviveu com um histórico vício de álcool e, muitas vezes, foi acusado de atuar sob efeito da bebida.

Atualmente com 64 anos, o craque enfrenta um adversário muito mais duro que qualquer zagueiro do Boca ou River: o câncer. Uma batalha que trava há três meses, quando descobriu um tumor na língua. Passou a contar com ajuda da própria AFA (Associação de Futebol Argentino) para custeio do tratamento.
A presença do ex-atacante no estádio e a constatação de sua atual condição física vem causando um amplo debate na imprensa e redes sociais. De um lado, torcedores exaltam a simplicidade de um jogador “raiz”, com forte ligação com um clube. Do outro, admiradores do futebol criticam a falta de sensibilidade do Huracán, que deixou na sarjeta – literalmente – um de seus maiores ídolos.
Em tempos, o jogo, válido pela 19ª rodada do campeonato argentino, terminou com a vitória de 1×0 para o Huracán, sob os gritos entusiasmados de milhares de torcedores e o olhar atento de René Houseman.