Uma das poucas coisas que justifica a existência do Rayo Vallecano é a sua relação com sua comunidade. Se não ganham títulos ou possuem poucas páginas de glória nos campos, fora deles dignifica sua história com causas sociais.
O Rayo é um time sediado em Madri, mais precisamente no bairro de Vallecas, uma região operária da cidade. Sua melhor posição no Campeonato Espanhol foi um oitavo lugar na temporada 2012/2013 e hoje se encontra na segunda divisão. É um clube de um bairro que significa pouco ou quase nada na história do futebol. Um primo miserável em uma cidade dominada por madridistas e colchoneros.
Apesar disso, é um símbolo de seus orgulhosos habitantes. O Rayo Vallecano não representa seus jogadores, seus técnicos ou seus dirigentes… é o bairro. Rayo é Vallecas e Vallecas é Rayo.
Se um clube significa tanto para sua comunidade (e vice-versa), a relação fica muito intensa. Um exemplo, ocorreu em 2014 quando uma idosa de 85 anos chamada Carmen Martínez Ayuso foi despejada de sua casa após 50 anos no bairro de Vallecas.
Carmen foi mais um exemplo da crise financeira e imobiliária que atingiu a Espanha a partir de 2008. Seu marido havia falecido há 7 anos e ela acabou despejada devido a um empréstimo de 40 mil euros que seu filho realizou junto a um agiota após este perder o emprego e os bancos negarem seus pedidos de empréstimo. O resultado foi trágico. Acabou utilizando a casa da mãe como garantia da agiotagem e acabou perdendo o único bem da idosa.
As imagens do despejo correram toda a Espanha. Com uma grande comoção de ativistas e moradores locais, a polícia despejou Carmen e tomou a casa. Legalmente correto, humanitário devastador.

Carmen acabou indo morar na casa da namorada do filho e mais 8 pessoas. Mas Vallecas e Rayo não poderiam virar as costas para a situação. O clube, através do seu treinador Paco Jémez, anunciou que iria pagar o aluguel de um apartamento para a idosa pelo resto de sua vida. Seus torcedores também realizaram diversas manifestações de apoio.
O clube poderia utilizar esse dinheiro para comprar um bom jogador. Preferiu utilizá-lo para uma causa social, não esportiva. Não importa. Se perdessem a sua essência local e humanitária, não lhe sobraria mais nada.
Carmen se queda (Carmen fica) e ponto final!