Mirko Saric e a depressão no futebol

Mirko Saric foi um revelado pelo San Lorenzo que enfrentou adversários no campo e um grande mal fora dele: a depressão.

Um dos maiores tabus no futebol talvez seja a depressão. Para muitos, um jogador bem sucedido não tem o direito de ter este transtorno. Eles já possuem dinheiro, mulheres, carros importados, fama, amigos verdadeiros, amigos falsos, não precisam acordar cinco da manhã, etc. Esses “vagabundos” que, ao menos, joguem.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, sendo o Brasil um dos países com maior número de depressivos: 11,5 milhões, um total de 5,8% da população. Mas queremos que no futebol esse número seja 0 no mundo e 0 no Brasil. Se somos uma sociedade intolerante, no futebol não poderia ser diferente. Não há espaço para sensibilidades, fragilidades ou compreensão.

Um caso de depressão no futebol ocorreu na Argentina em 2000 com o jogador Mirko Saric, do San Lorenzo. Infelizmente uma história sem final feliz de um pibe sensível que não resistiu a um massacre de emoções.

Nascido em 1978, Mirko Saric era uma das maiores promessas das categorias de base do San Lorenzo. Com um futebol extremamente refinado, o jogador filho de pais croatas, que atuava como volante, também era tímido e perfeccionista.

Nada parecia interromper um futuro brilhante: estreia com menos de 18 anos em uma partida profissional, um jogo técnico e belos gols, como um de cobertura contra o River Plate. Ainda era bonito, com uma família estruturada e querido pelos hinchas dos cuervos. O que mais poderia querer?

Chega o ano de 1999, aquele que deveria ser o ano da confirmação. Sob o comando do técnico Oscar Ruggeri (campeão da Copa do Mundo como jogador em 1986), o San Lorenzo aposta no talento da sua base nomes como o próprio Saric, Leandro Romagnoli, Walter Erviti e outros. Os meninos de Boedo prometem inúmeras alegrias para sua esperançosa torcida, não tão acostumada a títulos.

Mirko Saric era um dos principais jogadores do elenco e seu passe avaliado em nove milhões de dólares. Porém, no dia 09 de dezembro de 1999, ele acaba se lesionando gravemente com um rompimento dos ligamentos do joelho e seus demônios aparecem mais fortes do que nunca. Para piorar fica impedido, mesmo que momentaneamente, de praticar sua única paixão: jogar futebol.

Desde a adolescência Saric já mostrava tendência à depressão e a introspecção também não ajuda. Mas quando ocorre a lesão os problemas emocionais aumentam e ele procura o técnico Ruggeri e afirma que não tinha mais motivação. Estava sucumbindo.

“Uma noite na concentração estou sozinho, vendo televisão. Batem na porta e era Saric. Sentou na cama. Jogava, havia renovado o contrato, as mulheres o perseguiam, tinha família. Tudo perfeito. Ele me olha e diz “não encontro sentido na vida”. Um depoimento assim te desmonta. Não era um questionamento de futebol. Era um questionamento da vida”-  disse Ruggeri, em entrevista ao canal TyC Sports

Tentou iniciar um tratamento contra a depressão, mas já era tarde. Com apenas 21 anos, no dia 04 de abril de 2000 comete suicídio em sua casa e morre enforcado. Se não encontrava sentido na vida, por que mantê-la? Parecia óbvio a ele e assim o fez.

Saric 2

Após a tragédia o jornal esportivo Olé publica em sua capa a pergunta óbvia: “¿Por qué?”.  Pode não ser fácil aceitar uma decisão tão extrema, mas Saric disputou uma duríssima partida contra a depressão até o último minuto. Infelizmente perdeu.